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Notícia postada dia 04/11/2014

Notícia postada dia 04/11/2014

Liminar expõe impasse salarial, mas só sob pressão terá efeito para servidores

Liminar expõe impasse salarial, mas só sob pressão terá efeito para servidores

Decisão da ministra Rosa Weber que manda Congresso analisar orçamento atende parcialmente PGR; encontros em novembro rearticulam luta nacional dos servidores


Em meio ao movimento nacional de contestação mantido pelos servidores nos últimos meses e ao crescente aumento da insatisfação no setor, a ministra Rosa Weber determinou que o Congresso Nacional considere e analise as propostas orçamentárias originais do Poder Judiciário e do MPU como parte do projeto de orçamento da União para 2015. A decisão tem o mérito de manter a discussão sobre os projetos salariais em pauta e em evidência, mas é incapaz de assegurar avanços ou vitórias aos trabalhadores sem que haja muita pressão sobre o governo Dilma, os parlamentares e a própria a cúpula do Judiciário para que busquem um acordo.

É o que avaliam servidores que participam do movimento LutaFenajufe, que destacam a necessidade de a categoria se preparar para enfrentar medidas que atacam os trabalhadores que estariam sendo gestadas no Planalto. Há ainda o risco de a liminar ser usada por parlamentares para viabilizar aumentos apenas para os próprios vencimentos, dos ministros do STF e magistrados, como já há indícios de que estaria sendo ventilado no Congresso, de acordo com alguns veículos de comunicação.

 

Pressão no STF


A decisão da ministra Rosa Weber saiu dois dias após dirigentes da federação nacional (Fenajufe) e do Sintrajud-SP voltarem a cobrar pessoalmente de três ministros do Supremo Tribunal Federal avanços na questão salarial: Ricardo Lewandowski, que preside a corte, Dias Toffoli, chefe do Tribunal Superior Eleitoral e autor de pedido de vista no processo que julga a data-base no STF, e a própria ministra Rosa Weber, relatora do mandado de segurança movido pela Procuradoria-Geral da República contra os cortes feitos nas propostas orçamentárias do Poder Judiciário Federal e do MPU pelo governo.

 

Com respostas quase sempre evasivas, os ministros ficaram distantes da determinação desejada pelos servidores na defesa da autonomia entre os poderes e de direitos atropelados pelo governo. "Cumprimos o dever de cobrar e manter o presidente do STF sob pressão, trazendo ao seu conhecimento a insatisfação da categoria com a postergação da segunda reunião de negociação entre representantes do STF e governo", resume Adilson Rodrigues, da coordenação da federação nacional (Fenajufe).

 

O encontro com o chefe da mais alta corte do país transcorreu no Salão Branco no intervalo de sessão do STF, logo após o segundo turno das eleições. Na mesma data, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil se reunia e decidia aumentar a taxa básica de juros (Selic) de 11% para 11,25% ao ano, num sinal para o ‘mercado’ que antecede um já dado como certo ajuste fiscal que tende a resultar em mais arrocho salarial. "Foi uma conversa rápida, não agendada. Ele já começou perguntando se tinha alguma greve vindo por aí e, depois que pedimos empenho nas negociações para o Executivo não nos enrolar como em 2010, disse que não deixaria isso acontecer porque era o maior interessado em resolver esse assunto", diz Antonio Melquíades, o Melqui, dirigente do Sintrajud e um dos que participaram da improvisada reunião.

 

A referência do ministro à greve não parece gratuita. Reflete o que foram os últimos seis meses, marcados por duas greves nacionais, paralisações, protestos e uma crescente insatisfação na categoria. As mobilizações, embora muito desiguais, inegavelmente pautaram a questão salarial, algo improvável sem essa movimentação. "De pronto respondemos que [novos protestos] e possíveis paralisações poderiam ocorrer [no período] de prestação de contas na Justiça Eleitoral, requisito para homologação de resultados e posse dos vencedores", diz Adilson.

 

Lewandowski disse esperar que a reunião com o Ministério do Planejamento ocorra nos próximos dias, mas não apontou data e disse que esperava o retorno do diretor-geral do STF, Amarildo Vieira, das férias. Para Eugênia Lacerda, coordenadora da federação que também participou do encontro, o ministro já vem postergando a negociação há muito tempo. "É enrolação", diz. Ela lembra que inicialmente o problema era só poder fazer algo após a sua posse oficial, depois, as eleições e, agora, que o diretor-geral está de férias. "O ministro Lewandowski deveria assumir seu papel como chefe de poder e ir procurar a presidente para negociar o reajuste e parar de enrolar a categoria”, defende.


Decisão de Rosa Weber é parcial


A liminar da ministra Rosa Weber deve ser trabalhada politicamente, mas sem que se perca a compreensão de que não será ela a protagonista em uma possível futura vitória da categoria, avaliam os servidores. Tal observação valeria mesmo que ela acatasse todas as demandas apresentadas na ação – posto que o que está em questão envolve mais disputas políticas e econômicas do que impasses legais e constitucionais, por mais que eles existam. Porém isso fica mais evidente quando se analisa a íntegra da decisão – que atende apenas parcialmente aos questionamentos do procurador-geral da República, Rodrigo Janot. A ministra reafirma o consagrado entendimento de que a Constituição veta ao Executivo a possibilidade de alterar propostas orçamentárias dos demais poderes se elas atenderem aos parâmetros legais. E determina que deputados e senadores analisem os itens excluídos das previsões para o orçamento do Judiciário e do MPU como partes integrantes do projeto orçamentário da União e não como emendas ao texto do governo – eles foram encaminhados apenas como anexos.
Mas Rosa Weber não acata a principal solicitação da Procuradoria-Geral: que o Executivo reencaminhe o projeto de Lei Orçamentária Anual com a inclusão do inteiro teor das propostas do Judiciário e MPU, com as respectivas previsões de receitas para as despesas previstas. "Não me parece razoável, entretanto, em juízo de delibação, o pretendido reconhecimento da nulidade da mensagem presidencial que encaminhou o projeto de lei orçamentária anual, com comando de envio de nova proposição legislativa pela autoridade coatora", assinala, alegando que o prazo constitucional para envio do projeto venceu em agosto e que a Comissão Mista do Orçamento pode alterá-lo com base nas propostas anexas, diz trecho da decisão.

 

Encontro do funcionalismo


Mais adiante, em outra consideração polêmica, a ministra observa que uma medida judicial que determinasse a alteração das previsões de despesas acabaria invadindo a autonomia do Executivo: "De mais a mais, enfatizo que eventual comando para nova consolidação das propostas, por parte da autoridade coatora, não poderia redundar em inversão na equação, desta feita com ofensa à autonomia orçamentária e financeira do Poder Executivo. Tampouco este pode ser compelido a reduzir suas expectativas de despesa, para acomodar as pretensões de gastos deduzidas pelo Poder Judiciário".

 

De todo modo, a liminar fez barulho e repercutiu também na mídia comercial – mesmo que quase sempre de forma torta, como se a decisão se referisse apenas às pretensões de aumento dos juízes. Atuar para converter esse barulho em avanços políticos na luta contra o congelamento salarial – em um cenário no qual a mídia, empresários e o próprio governo sinalizam que um ajuste fiscal vem aí – é o desafio posto aos servidores. No final de novembro, representantes eleitos em assembleias estaduais dos trabalhadores do Judiciário Federal e do MPU fazem uma reunião ampliada na Fenajufe, em Brasília. Antes, de 14 a 16 do mesmo mês, amplos setores do funcionalismo federal se encontram para preparar a retomada da atuação conjunta. Nos estados, o cenário atual deve ser debatido com a categoria em assembleias e reuniões – numa articulação nacional para uma luta que deve continuar.



LutaFenajufe Notícias
Por Hélcio Duarte Filho
Segunda-feira, 3 de novembro de 2014



 

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