Servidores fazem ‘enterro’ simbólico da autonomia do Poder Judiciário no dia da posse de Lewandowski e mostram que a luta vai continuar
O recado foi dado. Centenas de servidores em greve vestiram preto, enfrentaram o sol forte que esquentou a capital federal e fizeram o ‘enterro’ simbólico da autonomia do Poder Judiciário. Mostravam, assim, aos presidentes dos três poderes da República que a categoria não se calará diante da crescente perda do poder de compra dos salários.
A manifestação que levou trabalhadores do Judiciário Federal e do MPU de Brasília e de mais 15 estados do país à Praça dos Três Poderes, nesta quarta-feira (10), ‘marcou’ a posse solene do ministro Ricardo Lewandowski na presidência do Supremo Tribunal Federal. Vibrante, o ato se converteu numa demonstração de que as ‘boas intenções’ prometidas por Lewandowski são insuficientes para enfrentar a política de congelamento salarial do governo e incapazes de tranquilizar os servidores.
Posse reuniu cúpula dos poderes
Enquanto o ato transcorria do lado de fora, dentro do Supremo participavam da cerimônia a presidente da República, Dilma Rousseff (PT), o vice-presidente, Michel Temer (PMDB-SP), os presidentes do Senado Federal, Renan Calheiros (PMDB-AL), e da Câmara dos Deputados, Henrique Alves (PMDB-RN), o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Marcus Vinicius Furtado Coelho. O ministro Marco Aurélio de Mello discursou em nome dos demais membros do tribunal.
Por alguns momentos, o ato assumiu aspecto de ‘marcha fúnebre’. “Aqui jaz o poder aquisitivo”, dizia cartaz levado por uma servidora. A maioria dos manifestantes foi de preto à atividade, mas alguns optaram pelo vermelho. O protesto terminou, por volta das 17 horas, com um ‘cornetaço’. “Foi importante para dar um recado para o Lewandowski e a Dilma, que estavam ali. Mostramos nossa indignação e que não aceitamos mais ficar um ano sem reajuste”, disse José Junior, servidor do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e integrante do Renova Sindjus-DF, coletivo que faz oposição à direção do sindicato local.
Assembleia em Brasília
A participação dos servidores dos tribunais do Distrito Federal é uma história à parte. A direção do sindicato tentou suspender o ato, aprovado no Comando Nacional de Greve da federação (Fenajufe) e na assembleia da categoria no Distrito Federal. Buscava atender a um pedido que em momento algum chegou a ser feito publicamente pelo presidente do STF.
Para isso, antecipou a convocação da assembleia de greve marcada para sexta-feira (12), desrespeitando a comunicação prévia prevista no estatuto da entidade. Mas acabou tendo que recuar e participar do ato, diante da determinação dos servidores da base da categoria de promover a manifestação – que transcorreu sem quaisquer incidentes. Servidores que participam da oposição sindical ‘Renova Sindjus-DF’ e colegas da delegação do Rio Grande do Sul e de outros estados distribuíram panfletos defendendo a realização do ato.
Contra o corte de ponto
Na véspera, o presidente eleito do STF recebeu uma comissão formada por dirigentes da Fenajufe e do Sindjus-DF. Lewandowski prometeu buscar o governo para negociar a aprovação das propostas, mas não deu garantias e disse que dificilmente falaria sobre isso com a presidente Dilma antes das eleições de outubro.
Pouco para justificar a pretensa suspensão de uma manifestação que levou servidores de várias partes do país a Brasília, alguns enfrentando quase um dia de viagem de ônibus, caso da delegação de São Paulo (Sintrajud). “Hoje fizemos em Brasília um dos atos nacionais mais vibrantes e contagiantes dos últimos tempos, onde a cúpula do Judiciário, a presidente Dilma e os presidentes da Câmara e do Senado foram cobrados a respeitar a independência e a autonomia do Poder Judiciário”, disse Adilson Rodrigues, servidor da JF de Santos e coordenador da Fenajufe.
Avaliação parecida faz o servidor Pedro Aparecido, também coordenador da Fenajufe e do sindicato de Mato Grosso (Sindjufe-MT). “O Ato cumpriu papel acima do esperado. O ponto alto foi o ‘enterro’ de Dilma e da autonomia do Judiciário Federal”, disse o dirigente sindical, que destacou ainda a crítica ao corte de ponto contra grevistas da Justiça do Trabalho de Mato Grosso e da Bahia. “Lewandowski terá que discutir com Dilma, pois caso isto não ocorra vamos retornar ao STF quantas vezes forem necessárias”, afirmou.
Discurso de Lewandowski
No discurso de posse, o novo presidente do STF bem que mencionou a questão salarial – tendo ao seu lado Dilma e os presidentes das casas legislativas. Falou em “restaurar a autoestima dos honrados magistrados e operosos servidores do Poder Judiciário” e em dar “particular atenção à recuperação de suas perdas salariais”. Mas evitou tocar na quebra da autonomia, aspecto mais grave desse processo e muito destacado no protesto que se desenrolava do lado de fora.
“Conseguimos colocar nossa pauta na ordem do dia para a mídia nacional e mostrar que não vamos nos calar diante dos quase 50% de perdas salariais. Nossa unidade nacional é o que pode garantir a vitória, por isso chamamos todos os estados a fazer o esforço de manter a greve nacional e superar as dificuldades”, disse Ruy Almeida, dirigente do Sintrajufe-RS e um dos integrantes da delegação gaúcha. “Os colegas do DF não abriram mão de realizar o ato e garantiram uma boa atividade. Não podíamos deixar passar em branco a posse do Lewandowski, que até agora não negociou e tampouco se comprometeu a atravessar a praça dos Três Poderes”, observou.
FOnte: Luta Fenajufe Notícias