Movimento contra privatização do pré-sal acampa na frente da Petrobrás, no Rio, e defende a suspensão do leilão da maior reserva de petróleo já descoberta no país
Após reconhecer que informações sigilosas de “alto valor econômico e estratégicas” foram alvos das ações de espionagem do serviço secreto dos Estados Unidos, a presidente Dilma Rousseff tem obrigação de cancelar a próxima rodada de leilão de petróleo, que privatizará a maior reserva já descoberta no país. É o que afirmam integrantes do movimento nacional contra a privatização do petróleo brasileiro, que, no Rio de Janeiro, iniciou acampamento em frente à sede da Petrobras que os organizadores pretendem manter até o leilão do campo de Libra, na área do pré-sal, marcado para outubro.
O discurso de Dilma na sessão da ONU (Organização das Nações Unidas), na terça-feira (24), em Nova York, foi enfático nas críticas à espionagem dos Estados Unidos sobre o povo, o governo e empresas brasileiras. A retórica ganhou a capa dos jornais e destaque nos noticiários da TV, das rádios e da web. Ao mencionar a espionagem sobre dados sigilosos e empresariais, a referência imediata de Dilma é para a Petrobras e para a Agência Nacional de Petróleo, que teriam tido documentos monitorados pelo serviço de inteligência dos EUA.
‘Caso grave’
As críticas à espionagem consumiram 734 das 2.339 palavras usadas por Dilma em seu discurso. Foi o primeiro e principal tema tratado: "Estamos diante de um caso grave de violação dos direitos humanos e das liberdades civis; da invasão e captura de informações sigilosas relativas às atividades empresariais e, sobretudo, de desrespeito à soberania nacional do meu país. Fizemos saber ao governo norte-americano nosso protesto, exigindo explicações, desculpas e garantias de que tais procedimentos não se repetirão", disse a presidente. "Pior ainda quando empresas privadas estão sustentando essa espionagem. Não se sustentam argumentos de que a interceptação ilegal de informações e dados destina-se a proteger as nações contra o terrorismo", acrescentou mais adiante.
O discurso duro, porém, não alterou em nada a intenção de o governo de manter o leilão, mesmo sob a suspeita de que empresas que vão disputá-lo possam deter informações privilegiadas. Alguns dias antes, Dilma havia anunciado a suspensão da visita que faria ao presidente dos EUA, Barack Obama, como chefe de estado, distinção que prevê cerimônias e até um baile na Casa Branca em homenagem à convidada. Mas parou nisso e nem sequer cogitou suspender o leilão. "Este sim seria um ato de soberania nacional, não esse [a suspensão da visita], que até parece combinado com Obama. A gente espera que a coragem dela [para cancelar o leilão] não tenha terminado no tempo que lutou contra a ditadura", criticou Francisco Soriano, dirigente do Sindicato dos Petroleiros do Rio de Janeiro (Sindipetro-RJ), durante ato político na ABI (Associação Brasileira de Imprensa), que prestou homenagem a alguns defensores da liberdade de informação que foram protagonistas na revelação das denúncias de espionagem.
Dentre eles, foi concedida medalha, que seria posteriormente entregue, ao ex-analista de inteligência dos EUA Edward Snowden, que denunciou a espionagem mundial em larga escala dos EUA e obteve asilo político na Rússia – o pedido de asilo solicitado por ele ao governo brasileiro foi negado por Dilma. Também foi homenageado o jornalista norte-americano Glenn Greenwald, que, radicado no Brasil, divulgou textos com base nas denúncias de Snowden.
Críticas à manutenção da privatização apesar das denúncias marcaram vários momentos do ato. "O campo de Libra equivale a um PIB nacional anual, é o petróleo de melhor qualidade. Já havia sido descoberto e cedido à Petrobras, é um roubo", assinalou o representante sindical dos petroleiros. O leilão, que o movimento "O Petróleo é Nosso" luta para barrar, está marcado para acontecer no dia 21 de outubro, no Rio de Janeiro.
Fonte: Luta Fenajufe Notícias